Internauta imagina Copa na Finlândia

O Portal WP CLICRBS publicou recentemente um e-mail de um dos seus internautas, onde o mesmo declarava que a Copa deveria ter sido realizada pela Finlândia, não pelo país.

“Olá caro Moacir ;
Respeitando evidentemente tua opinião sobre a Copa não posso deixar de mencionar a minha como leitor e assinante deste meio de comunicação que sou.
Me causa estranheza quando pessoas bem educadas e com um senso crítico elevado por conta de uma formação como a sua de certa forma acham ou afirmam que a Copa está sendo muito melhor que se esperava .
Ora , ou por falta de informação( acredito não ser seu caso ) , ou por partidarismo ( também acho que não) me ponho a pensar como um brasileiro que paga a maior carga tributária do mundo , que como as chuvas que assolaram este estado nos últimos dias onde muitos municípios não tem verba de reconstrução , onde tudo que pagamos é hiper faturado , onde pessoas como eu e você pagaremos a conta de estádios que nunca mais terão 10.000 pessoas pode ver o lado positivo de uma copa em um país extremamente corrupto como o nosso.
Sinceramente , o Senhor como formador de opinião não subestime seus leitores como este governo irresponsável está fazendo.
O mais prudente há alguns meses atrás era mandar a copa do mundo para a Finlândia , Canadá …. países que além de terem governos na sua maioria idôneos, tem uma população séria e comprometida com os interesses coletivos.
Atenciosamente.
Cristian Tadeu.”


- Retirado do Portal WP CLICRBS.

Vejamos: sabemos que a Finlândia é um dos países mais caros do mundo e de toda a Europa. Além disso, seu clima é completamente gélido, o que facilita alguns gêneros de esportes mas prejudica boa parte dos outros. Citamos aqui no blog que "clima não é desculpa para derrota na Copa", já que o Brasil jogou até mesmo no frio intenso da Suécia - que pode ser equiparado com o frio finlandês em períodos de inverno constante - e levou a taça para a casa do mesmo jeito. Sendo uma Copa do Mundo, é difícil agradar a gregos e troianos, pois alguns países estão acostumados com climas mais frios e outros mais temperados. É extremamente difícil manter um equilíbrio. O Brasil é um país quente, muito quente para seleções como da Inglaterra e Suíça. Mas assim como a seleção brasileira enfrentou o frio sueco, estas deveriam enfrentar o calor tropical do nosso solo tupiniquim. Sendo assim, o clima não desclassificaria a possibilidade da Finlândia ser a sede da Copa, mas poderia ser uma das justificativas brasileiras, uma vez que na maioria dos casos, os jogadores só enfrentaram frio. 

Foto: PixaBay
Finlândia

Quanto à política, é válido ressaltar que nem tudo são rosas. Nós, enquanto brasileiros, temos uma mania incrível dita como "complexo de vira-lata". Achamos que tudo lá fora é sempre mais perfeito que aqui. A grama do vizinho nem sempre é mais verde. A Finlândia tem passado por algumas evoluções políticas e mesmo se a honra de sediar uma Copa do Mundo tivesse sido dada a ela, provavelmente a resposta teria sido a mesma de Estocolmo (Suécia): não.
O motivo é simples: os próprios políticos suecos afirmaram que 'Estocolmo tem mais prioridades. Como por exemplo a construção de mais moradias'. A resposta provavelmente não teria sido diferente para a Finlândia, um país tão próximo e com ideais semelhantes. 
Já o Brasil, é claro... O País do Futebol. Mesmo em crise, em meio a protestos e tantos problemas sociais e econômicos, não negaria uma proposta tão fantástica dessas. O povo não deixaria. Seria a alegria deles. 

Foto: Comunidade Artistas (blog)
Brasileiros na torcida, felizes, alegres, ebaaa... Bem diferente da paisagem no jogo contra a Alemanha

É, as coisas não caminharam bem assim. De início, alguns saíram às ruas para protestar. Ninguém viu. A televisão anunciava os protestos e chamava os manifestantes de vândalos, enquanto na França, eram revolucionários. Ninguém viu. Até os rádios começaram a anunciar, e de repente a internet foi tomada por eventos de manifestações e críticas. As pessoas no sofá começaram a ver. A televisão e os jornais voltaram a chamá-los de vândalos, e o que os revolucionários de sofá fizeram? Apenas riram e disseram que 'todos deveriam ir para a cadeia'. 

Foto: ViOMundo
Em solo franco é revolução; no Brasil, é vandalismo

Tempos depois, a Copa estaria chegando. O que disseram? "Ah, deixaram para protestar só agora?!". Não. Isso já estava acontecendo bem antes, mas o que a maioria do país preferiu fazer? Acreditar na tevê, sentar no sofá e ver a novela das seis. O gigante que parecia ter acordado foi só uma ilusão disfarçada com interesses políticos e violentos internamente. A rebeldia brasileira acabaria assim que o som do apito soasse pelos estádios. Foi o que aconteceu.

Foto: WSCOM
Yuichi Nishimura, o árbitro japonês mais queridinho do Brasil

O povo brasileiro, solidário, batalhador e receptivo não era o mesmo entre estádios, casas e ruas. Nos estádios, a maioria era aquela que se revoltava contra o governo atual. Aquela maioria - que na verdade é uma minoria em condições de classe alta - só visava atacar o PT e sua corja. Postar no Facebook que torceu pelo time do coração, pelo seu país, pela sua pátria. Aparecer na televisão com seu ídolo. Concorrer à Musa da Copa. Coisas que, quem estava lá fora, trabalhando de sol a sol e parando aos poucos para acompanhar o grito de gol, não teve a chance de fazer. Coisas que quem estava lá fora tentando lutar por um país melhor com cartazes implorando por educação e saúde também não conseguiu fazer. Coisas que quem ficou acompanhando do sofá de casa nem quis saber.
Mesmo assim, somos receptivos e solidários. Recebemos toda aquela gente dos quatro cantos do mundo. Assaltados ou não, muitos sobreviveram por aqui. Os brasileiros conquistaram a maior taça: a de ter realizado a Copa das Copas, mesmo perdendo a chance da real Copa por sete goleadas e um contra-ataque.

Foto: LinkaMe
Dilminha fazendo propaganda da Copa das Copas. Pena que lá fora os estrangeiros ainda voltam seus olhos para os problemas sociais, econômicos e políticos do país, como na legenda seguinte:

Imagem recebida por Reda Sbs, leitor do blog, habitante de Témara, Marrocos

Imagem recebida por Reda Sbs, leitor do blog, habitante de Témara, Marrocos

Hospedagem foi o dilema: algumas casas do nordeste cederam seus quartos e transformaram seus lares em pequenas hotelarias. A diária era caríssima: R$100 não pagava nem mesmo um quarto pequeno. Pergunto-me se havia pelo menos café da manhã incluso. Acho que não. Os dormitórios eram redes, mas isso era suficiente: o que o povo de fora queria mesmo era só ter a emoção de ver o seu time jogar, aproveitar, esquecer um pouco dos problemas e desvendar a mágica que o brasileiro tem de poder sorrir mesmo sendo manipulado e roubado todos os dias.

Foto: GP1
'Brasileiros e turistas colorem as areias de Copacabana'

Se a população não é comprometida com a política, ao menos é comprometida com futebol. Saímos as ruas diversas vezes, e com tantos problemas acontecendo, ainda conseguimos fazer uma Copa dessas. Com obras que só terminarão em 2015, mas com um povo que soube aproveitar a festa. 
Se poderia ser melhor? Em tecnologia, infraestrutura e todo o resto, com certeza. Mas é difícil saber se encontraríamos um povo tão acolhedor como o nosso em outras terras. Não adianta: levamos o legado de Brasil-Coração-De-Mãe para a vida toda. E esse complexo de país-colônia não pode existir. Temos problemas como qualquer outra terra, como qualquer outro povo. Mas não somos os piores em tudo. E estamos preparados para os que dirão que o Japão perdeu feio mas venceu em educação, saúde e transporte, ou que a Alemanha venceu em todos esses e ainda mais no futebol. Mas de tão jovens que somos, estamos fazendo um bom trabalho. Não tanto quanto a Austrália e outros países com democracia oficialmente declarada tão recentemente, mas estamos engatinhando.

Foto: Revista Crescer
Estamos engatinhando e... opa, GOL! É da Alemanha!

Fizemos a melhor Copa que podíamos. E mesmo perdendo a taça tão desejada do hexa, conquistamos milhões de corações ao redor do mundo. Não imagino uma Copa dando tão certo em outro lugar. Simplesmente porque aqui é o lugar do povo brasileiro, o povo que ama futebol, o povo que recebe gente de fora e às vezes até esquece de quem é de casa.

Foto: Copa dos Bebês
Ownt!


Mas calma lá, Brasil. O sono ainda não acabou.
Só precisamos nos unir assim mais vezes quando o assunto for política, abandonando um pouco da cultura do pão e circo. Precisamos despertar.
Com a mesma garra, com o mesmo sonho do hexa que não veio em casa.

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