Comunicação social e linguagem: os pesadelos da vida política, corporativa e acadêmica
Foto: RroimWordpress
Espero pelo dia em que as pessoas entenderão que tudo é linguagem. O tecnicismo torna uma determinada área muito específica quando, na verdade, o que causa confusão são apenas os termos e jargões. Esquecemo-nos que mais importante que entender a economia, a história e o direito, é entender a linguagem econômica, histórica e jurídica. Por vezes, não importa quão bom o indivíduo seja em realizar tarefas lógicas extremamente complexas, se este não possuir a capacidade mínima de traduzi-la a pessoas que nunca tiveram contato com a área técnica. Sendo assim, encontramos um ponto em comum entre professores, analistas de sistemas e diplomatas: ambos atuam, ainda que indiretamente, como tradutores e dominadores de diferentes conhecimentos e linguagens que devem, por sua essência, interagir entre si.
O professor, enquanto mediador - e não detentor único - do conhecimento, tem seu principal dever declarado com a função de disseminar e traduzir o linguajar acadêmico aos alunos de diferentes idades, de forma que estes possam compreendê-lo independente de seu grau de instrução.
O analista de sistemas, por sua vez, pode atuar com habilidades lógicas e relacionadas à programação e à criação de diagramas de classes e processos, mas faz-se necessário que este profissional entenda também a macro e a microrrealidade de uma determinada camada de negócio, para que o sistema seja desenvolvido de acordo com as necessidades do cliente. É preciso, portanto, traduzir a linguagem pessoal e voltada para os negócios, para uma linguagem específica de processamento de dados, que posteriormente também será traduzida para o eventual programador que realizará a interpretação dos diagramas e modelos relacionais expostos.
Já o diplomata, embora precise de conhecimentos gerais em política exterior, direito internacional, economia, linguística e estudos sociais, sua maior barreira é justamente a dominação da língua. Esta não deve-se apenas ao contexto de "escrever bem" ou "falar bem", pois não refere-se apenas às línguas estrangeiras e nem mesmo ao português dissertativo, mas sim à capacidade de transitar entre diferentes estilos de linguagem. Saber realizar uma função matemática de primeiro grau para entender um processo de economia não significa que o candidato à carreira diplomática entenderá os termos utilizados. Não é apenas uma questão de vocabulário, mas de adequar-se a todas as situações que envolvem termos e expressões que podem adquirir diferentes sentidos. A principal dificuldade não é Direito, mas sim o "juridiquês" que confunde a mente dos candidatos. Da mesma forma que, de uma visão geral, o ensino médio preza por questões de matemática óbvias como "qual é o valor de x expressão e y fórmula?", sendo que esta não será a realidade dos vestibulares. Estes utilizarão a capacidade linguística e interpretativa como uma maneira de disseminar a visão de que a matemática é complexa quando há, na realidade, uma defasagem explícita de linguística e capacidade interpretativa. É preciso aceitar, portanto, que todas as áreas transitarão entre os códigos e linguagens, e ainda que não sejamos adeptos da cultura da escrita contínua, precisamos aprender a lidar com diferentes problemáticas de outras áreas, mas tal posição também não significa que, ao dominar a escrita formal e escrever impecavelmente, todos os problemas estarão resolvidos, pois linguística vai além da ortografia, grafia, coesão e coerência textual. Envolve-se, em fato, por todas as camadas possíveis que darão sentido a um determinado artigo expressivo, não importa sua linguagem ou tecnicismo.
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