Europa mantém alertas para custos imigratórios em meio à época eleitoral


Cartaz francês da candidata Marine Le Pen Joel, considerada ultraconservadora e acusada de atos xenofóbicos perante imigrantes legais e ilegais, fora vandalizado com expressões referentes ao nazi-fascismo alemão da Segunda Guerra.
Foto: Saget/AFP 

Deputados da França de partidos cuja postura política envolve-se entre direita e conservadorismo, bem como o ministro sueco das Finanças, têm retratado a realidade problemática da imigração constante em época eleitoral nos países europeus.
Ambas as nações possuem pactos imigratórios que estimulam determinados povos a imigrarem aos países europeus, principalmente quanto a refugiados de áreas em conflito e nações que apresentam dívidas históricas, culturais e sociais.
Partidos que estimulam a diferenciação de povos e a valorização extrema da etnia nacional ganham cada vez mais espaço na política europeia. Na França, cuja capital (Paris) é a cidade mais visitada do mundo, faz-se necessário questionar se o fluxo imigratório está, de fato, gerando benefícios ou prejuízos para o país. Alguns candidatos influenciam, porém, não a visão econômica, mas sim social em um contexto de que 'não é possível cuidar de todos os problemas do mundo em uma só nação'.
Historicamente, os franceses exploraram abertamente países da África, especialmente da África do Norte. Não apenas como um pedido de reconciliação, mas também como uma tentativa de promoção étnica, a França possui o pacto imigratório France-Afrique, que possibilita cidadãos de determinados países africanos possuírem visto declarado, um auxílio financeiro equivalente ao salário mínimo básico brasileiro para a sobrevivência dos imigrantes em solo franco e bolsas de estudo em universidades e escolas francesas, cujos sistemas de entrada assemelham-se às cotas para afrodescendentes no Brasil, embora esta não atinja apenas este grupo.
Contudo, torna-se impossível a posição de que há, de fato, uma reintegração social promovida pelos país, pois ainda há diversos grupos políticos que mantêm a consciência de que este é um custo a mais para a nação, e esta deveria preocupar-se, em ordem de prioridade, com os problemas locais. Assim como as cotas no Brasil, nem todos os benefícios do tratado são devidamente reconhecidos e aceitos pela população. Além disso, por não existir a devida reintegração, a maioria dos imigrantes aceita o pacto e procura uma vida melhor para a família, mas depara-se com diversos problemas econômicos e também culturais. Os cidadãos devidamente estrangeiros, normalmente argelinos e marroquinos, casam-se legalmente na França e lá possuem seus filhos, que nascem devidamente registrados como franceses. Estes, porém, não reconhecem sua identidade como francesa, pois o impacto histórico e a xenofobia ainda presente no país faz com que seja impossível esquecer um passado ainda presente no próprio hino nacional francês, cujos versos expressam a realidade de guerra do país e a xenofobia presente: 'Que um sangue impuro / banhe o nosso solo'. É também por tal razão que jogadores argelinos como Benzema, enquanto cidadão argelino, e Zidane, enquanto francês naturalizado e filho de argelinos, não cantam a canção 'La Marseillaise' (A Marselhesa) em jogos mundiais, nem mesmo nacionais. Quando a mídia passou a mostrar a realidade de protesto dos jogadores, Benzema foi entrevistado e respondeu: "Eu não consigo cantar o hino francês porque eu conheço a história do meu povo".
Nas escolas públicas, os cidadãos jovens que ainda são considerados africanos, por viverem, em sua maioria, à margem da sociedade e sem grandes condições financeiras, concentram-se em escolas que possuem as piores taxas de educação do país, distanciando-se das grandes universidades e escolas renomadas, ainda que exista um sistema cotista. A realidade da diferenciação de nomes, a dificuldade com a língua nativa e a falta de preparação de professores franceses para atender um grupo maior de estrangeiros é mostrada em filmes como 'Entre os Muros da Escola' (Entre les murs).
Ainda que a França tenha divulgado uma proposta recente de liberdade de voto a estrangeiros em eleições nacionais, estes provavelmente não alcançarão tal direito facilmente, uma vez que não possuem apoio da população nativa. Não há, na política francesa, nenhum representante de seus povos, nem africanos vindos do Sul, nem do Norte. Na música, a cantora Indila tem conquistado rádios francesas, mas ainda assim a cultura estrangeira - especialmente árabe - é vista com olhos suspeitos quanto à presença real dos resquícios de doutrinas ufanistas e extremamente nacionalistas. Além de viver à margem local, a maioria dos imigrantes acaba formando grandes bairros específicos de suas culturas, vivendo praticamente em uma área totalmente diferente da França, como um novo país. O bairro 2ème (deuxième) de Paris representa a grande diversidade cultural de povos árabes, afrodescendentes e indianos, que normalmente mantêm sua renda por meio de pequenos negócios e lojas de artigos comerciais culturais e/ou religiosos na região parisiense que é mais conhecida pelo ícone francês (Torre Eiffel) do que pelos ícones mundiais que a cidade deveria representar.
Na Suécia, a realidade não difere-se em seu contexto social, nem mesmo econômico. Imigrantes também árabes são aceitos no país por meio de leis protecionistas, mas a barreira linguística é sua principal dificuldade. Sem assistência idiomática, a maioria não domina nem sueco, nem inglês. Embora a maioria dos cidadãos suecos entre 8 e 70 anos tenha inglês extremamente fluente como língua secundária, os imigrantes normalmente possuem níveis muito básicos ou quase nulos da língua, fazendo com que isolem-se em camadas inferiores da sociedade local. Muitos deles, embora não seja uma regra, sem assistência escolar e com grandes índices de desemprego, veem como única opção a vida criminalística, fazendo com que mais um quesito xenofóbico volte a existir em território sueco, onde a população nativa não consegue compreender que apenas dar o visto e auxílio básico financeiro não basta, é necessário também que o Governo invista em colaboração e inclusão social. Não tendo isso como ciência, a maioria ainda crê que o problema está, de fato, nos estrangeiros, e que são eles os responsáveis pelos índices de criminalidade aumentarem.
Entre outros exemplos, a Alemanha, com imigrantes muçulmanos, tem enfrentado uma realidade semelhante quanto à disseminação da cultura islâmica no país. Em 2010, Thilo Sarrazin, executivo do Banco Central alemão, alegou que 'muçulmanos emburrecem a população da Alemanha', e que tanto islâmicos quanto judeus possuem 'todos os mesmos genes', tornando-os diferentes de outros grupos religiosos do país. Além da diferenciação religiosa, há também a divergência étnica, uma vez que a maioria dos muçulmanos presentes são de etnia árabe, turca e grupos indonésios diferenciados. Não sendo suficiente, outros argumentos completamente xenofóbicos, inapropriados e indelicados pelo histórico da Alemanha com doutrinas nazi-fascistas, foram atirados pelo representante: “Eu não tenho respeito por ninguém que viva de benefícios estatais, mas rejeite o Estado, que não tenha o suficiente para a educação de seus filhos e que constantemente produza menininhas com véus. (...) Quanto mais baixa a classe social, maior é a taxa de natalidade”, alega o executivo que, em seguida, reforça o comentário inicial: “De uma maneira natural, estamos nos tornando mais burros (por causa da imigração turca, africana e do Oriente Médio)”.
No Japão, o crescente número de crimes cometidos pelos brasileiros tem feito com que autoridades japonesas investiguem a possibilidade da diminuição do fluxo imigratório de brasileiros ao solo nipônico, ainda que o sistema de entrada já seja rígido. Com a dificuldade que brasileiros enfrentaram nos últimos anos, o Governo japonês disponibilizou uma ajuda de custo para que estes retornassem ao Brasil, mas muitos brasileiros que permaneceram no Japão em meio à crise e desastres naturais sentiram-se prejudicados, pois aqueles que recorreram à ajuda governamental com a condição de não voltarem ao Japão até quitarem suas dívidas acabaram conseguindo retornar, gerando polêmica entre próprios brasileiros. Sendo assim, o visto japonês recebeu uma nova cláusula no mês passado, referente aos brasileiros que solicitaram a ajuda de custo, tendo seus vistos alterados e, em sua maioria, negados como permissão de reentrada no território. A polêmica abalou não somente brasileiros, mas japoneses que têm considerado que políticas protecionistas referentes à população nativa sejam aplicadas, embora o grupo de estrangeiros que mais cometa crimes no Japão seja o de chineses, e, em segundo lugar, de brasileiros. Na lista dos dez grupos mais problemáticos, não encontra-se a Indonésia, que tem substituído o Brasil como mão de obra barata para o território japonês. Sendo uma população imigratória mais consciente, esta não tem, até então, altos números registrados de assaltos, crimes ou permanência ilegal, fazendo com que o favoritismo das empresas tenha voltado a ser imigrantes indonésios e, aos poucos, os brasileiros têm conquistado papéis de vilões que vão para o Japão apenas para cometerem crimes.
Não muito distante, o Brasil também realizou o Pacto Imigratório com refugiados do Haiti e de outros países problemáticos, situação que fora discutida em meados de maio (PACTO IMIGRATÓRIO: estadia à margem da sociedade), e que atualmente tem a realidade de que os imigrantes estão residindo temporariamente em habitações da Prefeitura de São Paulo, e suas condições são totalmente precárias no que diz respeito à alimentação, saneamento básico e situação financeira. Embora o Estado tenha garantido o visto, a mesma questão linguística, social e econômica, tem mostrado o exemplo de outros países com o mesmo resultado em sua prática.
Diante todas as problemáticas históricas já passadas e também presentes que foram demonstradas por meio deste, é possível afirmar que a conduta política dos países europeus (e não só europeus, nos casos japonês e brasileiro) tem sido reafirmada com base em doutrinas xenofóbicas que, embora utilizem argumentos de que estrangeiros não possam votar e seus custos têm causado enormes danos ao país, não possuem embasamento legal para que sejam distinguidos por meio de 'raça', religião, cor ou mesmo etnia. Ainda assim, o que a política direitista e neo-fascista tem previsto para tais casos, é o total isolamento do estrangeirismo e a valorização e exaltação do capital, da cultura e do orgulho, ambos nacionais, além do distanciamento étnico e cultural com o restante do mundo, embora este dirija-se não aos países cuja representação ainda é superior, mas sim aos países considerados, em pleno século XXI, como 'países de terceiro mundo'. O que a política tem previsto não é nada além do que a Europa já enfrentou nos últimos anos e, inclusive, na Segunda Guerra Mundial. São os primeiros passos para o retrocesso, e para a anulação dos Direitos Humanos conquistados e preservados, ao menos em teoria, após tantos conflitos mundiais. É preciso analisar, portanto, se os argumentos têm sido realmente referentes à economia local, ou se servem apenas como embasamento e sustentação de argumentos para intenções que, em sua real face, sejam apenas a repetição de revanchismos antigos e doutrinas perdidas.

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