Por que a noção de cidadania sofre tamanha variação no Brasil? (Em resposta a Roberto DaMatta)
Foto: Love Dog
"Por que a noção de cidadania sofre tal variação no Brasil, quando o que a caracteriza em sociedades como a inglesa, a francesa e a norte-americana é a sua invejável estabilidade?"
('A questão da cidadania num universo relacional' - Roberto DaMatta)
Não apenas a política, mas o próprio conceito cultural em que o povo brasileiro tende a inserir-se, torna a utopia da cidadania igualitária ainda mais ilusória, contrastando-se com uma realidade de privilégios e regalias cujos beneficiados dependem de hierarquias e origens que não se referem a toda a camada popular brasileira.
O que o dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues viria a declarar como "complexo de vira-lata" nos mostra que, embora preguemos uma cultura de conduta pacifista, igualitária e dignamente cidadã, mantemos pequenos nomes e cores de passaporte que ainda reservam diferentes proveitos a pequenos grupos, ainda que faça-se necessária a manutenção da boa ordem nacional que, em teoria, possui a responsabilidade de gerir a equivalência de direitos.
Diferenciamo-nos, ainda enquanto brasileiros, por grandes variações de credos, aquisições, condições econômicas e raças, e o estrangeiro, por sua vez - aquele que herda resquícios de uma cultura internacional que preza pela prioridade do nativo -, é visto e beneficiado de forma ágil e prioritária quando recepcionado, unicamente pela descrição de sua nacionalidade. E em meio à quantidade imensurável de variações, não seria espantoso notar que nossa noção de cidadania toma, ainda que de forma turva, o mesmo rumo das típicas diferenciações sociológicas aqui já presentes - aquele que juramos ser desigual, desumano e desproporcional à sociedade brasileira.
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